Um fenómeno que está a deixar economistas (em particular anglo-saxónicos) fascinados é a evolução da taxa de desemprego na Alemanha.
Em 2009 o PIB alemã decresceu quase 5% e o desemprego práticamente não aumentou na Alemanha.
Como isso foi possível?
Deve-se a uma coisa chamada "Kurzarbeit". Esse regime permite às empresas quando não há grande procura pelos seus produtos (como numa recessão) deixaram trabalhar os seus funcionários parcialmente ou mesmo nada.
A empresa e o estado compartilham o pagamento do ordenado à mão-de-obra. A grande vantagem para a empresa é que continua a ter os seus funcionários nos quais houve um elevado investimento em formação.
Um exemplo interessante foi a politica das companhias aereas depois do 11 de setembro. Houve uma grande quebra na procura de voos.
A British Airways despediu funcionários, enquanto que a Lufthansa recorreu ao Kurzarbeit. Quando a procura aumentou a Lufthansa voltou a ter os seus funcionários pronto para trabalhar, enquanto que a British Airways teve que recrutar e formar novos funcionários.
Portanto tambem Kurzarbeit em Portugal? Bem, temo que isso levaria a muito mau-uso, tendo em conta a cultura de esperteza saloia que existe neste país...
Um outro fenómeno interessante na Alemanha é o pessimismo ritualizado dos alemães.
No ano passado toda a imprensa dizia que o desemprego iria explodir, não se confirmou.
A recessão continua tambem em 2010, não se confirmou.
Agora surgiu a noticia que a evolução do défice alemão afinal parece estar melhor que o previsto... note-se que a integração do controlo da divida pública na constituição é invenção alemã e não de Luís Anmado :)
Coloca-se a questão de que o péssismo alemão é um problema, pois devido a isso os alemães consomem pouco e assim compram poucos produtos portugueses, gregos, etc.
domingo, junho 06, 2010
Kurzarbeit
Espetado por Ger @ 14:42
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7 Bitaites:
«Portanto tambem Kurzarbeit em Portugal? Bem, temo que isso levaria a muito mau-uso, tendo em conta a cultura de esperteza saloia que existe neste país...»
Na realidade foi uma das medidas do pacote anti-crise do ano passado; foi implementada para a industria automóvel nos termos que tu descreves.
@ Anónimo
Não sabia isso. Tens conhecimento dos impactos positivos ou negativos que essa medida teve cá em Portugal?
Bem, não fechou nenhuma fabrica automóvel; agora, esta medida terá tido também impacto no desiquilibrio orçamental do ano passado...
É preferível a o estado ter que pagar subsidio de desemprego.
Excelente post, parabens!!..pertinente, informativo e para mim surpreendente (nao conhecia esta tecnica).
Curiosamente o Prof Marcelo Rebelo de Sousa esteve este sabado em minha casa para dar uma "palestra" e referiu (penso eu) esta medida que na altura nao percebi muito bem pois desconhecia a sua matriz.
Marcelo e Ger rulam pra carilho!!!
É preferível a o estado ter que pagar subsidio de desemprego.
Taambém acho, mas existe sempre o risco de a fabrica fechar mesmo com o apoio (que não poderá prolongar-se indefinidamente) e nesse o Estado tem de responder aos custos do Kurzabeit + subsidio
Claro que a empresa pode, e entra por vezes, mesmo assim em falência.
Esta medida funciona bastante bem porque a empresa continua a gastar dinheiro com o funcionário (embora só parte do salário). Assim uma empresa só recorre ao Kurzarbeit quando está convicto de que a crise em que se encontra é passageira, o que ocorre em recessões económicas, que se esperam passageiras.
Os dados mais recentes da Alemanha revelam que o número de pessoas em Kurzarbeit diminuiu de 1 milhão no início de 2010 para 600 mil em Maio. A esmagadora maioria voltou ao seu emprego normalmente.
Esta medida é uma forma de dar uma certa flexibilidade laboral às empresas, podendo haver assim adaptação ao volume de negócios numa dada altura, e por outro lado defender os interesses do funcionário (ficando esse com o emprego).
Penso que a vantagem deste modelo vê-se bem no exemplo British Airways vs. Lufthansa.
Uma evolução deste modelo que foi introduzido na Alemanha é que um funcionário que se encontra em Kurzarbeit pode durante esse período ter um outro emprego (por exemplo num café) sem perder as regalias do Kurzarbeit.
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