quinta-feira, julho 01, 2010

Última hora





Algum pessoal utilizou esta capa para vergastar uma vez mais no suposto narcisismo dos jornalistas (claro que utilizar as capas do 24 horas como ponto de partida para uma reflexão sobre jornalistas é como fazer generalizações sobre o papel da diplomacia portuguesa baseando-nos nos despachos de acusação do embaixador Jorge de Ritto, mas não é o meu ponto).

Esta capa também invocou em mim o mais vivo fascinio, mas, parece-me, por razões não coincidentes. De facto, não sou alheio ao encanto das três primeiras frases: imaginando cenários onde os «trafulhas» põe termino a anos de luta com as insónias, alimentada pelo receio ao intrépido jornalismo de investigação do diário; ou dos pobres políticos atemorizados com o sólido fact checking implementado por aquela casa, onde cada indicador económico era decantado em processos que constituem algum do estado de arte da Estatística (já agora, porquê a exclusão dos Padres desse escurtínio ?). Também não sabia que, paralelamente, a redacção exercia também uma concorrência gourmet aos cobradores de fraque.

A minha perplexidade germinou na última frase « os actores já podem trocar de namorada todos os dias». Engoli esta frase com dificuldade, afinal, e depois de tantos anos imerso em preconceitos infundados e mesmo, percebo-o agora, insultuosos, percebi finalmente que o 24 horas pouco devia à «calhandrice». Desenvolvo, por detrás das notícias sobre as noites do José Carlos Pereira, escondia-se um elaborado código moral, uma cruzada por aquilo que é bom neste mundo louco e cruel. Naquele jornal trabalhavam pessoas numa secção exclusivamente devota a preservar o mundo de um tempo em que «os actores já podem trocar de namorada todos os dias»; profissionais idealistas que hesitaram entre distribuir seringas a toxicodependentes e abrir poços de água potável no Lesoto mas abraçaram uma causa maior: protelar a data do anúncio de que «os actores já podem trocar de namorada todos os dias»; homens e mulheres que hoje encaram com horror os destroços do país onde cresceram, uma terra sem lei, onde a violência assentou os seus estandartes rubros e a fronteira com a barbárie tornou-se inescrutável… Um espaço disforme onde «os actores já podem trocar de namorada todos os dias».

1 Bitaite:

parreirex mandou o bitaite...

LOLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL